Estava um
dia lindo, final de outono, início do inverno, um dia maravilhoso para passear
no campo. Nesse dia, logo de manhãzinha, a minha mãe amassou a farinha, para
levedar e mais tarde cozer o pão, recomendou-me que fosse apanhar lenha para
pôr o forno a aquecer.
Medronheiro
Desafiei
um amigo para ir comigo à lenha, partimos, levámos uns baraços de sisal para
apertar os molhos, começámos a subir a serra, passámos pela casa do Júlio, mais
à frente pela casa dos irmãos Bravo, filhos do Lenine, estávamos já em plena
serra. Antes de começar a apanhar as estevas (secas para arder melhor),
encontrámos dentro do matagal, umas árvores rasteiras, tinham entre os ramos umas
bolinhas amarelas / vermelhas alaranjadas. Experimentámos, gostámos e começámos
a comer sem parar.
Campo
de estevas
Pouco tempo depois, fomos
acometidos de fortes dores de cabeça com tonturas e dores no estômago.
Regressamos a casa, com grande dificuldade a meio da tarde, sem lenha nem
baraços. Os meus pais estavam muito preocupados e agitados. O pão, bem
quentinho, já estava no tabuleiro, porque a minha mãe pediu a um vizinho a
lenha necessária para aquecer o forno. Eu e o meu amigo ficámos de cama, com o estômago
inchado, até altas horas do dia seguinte.
F. Santos – Memórias da Juventude
27 de novembro de 2019