quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Os professores: excelentes, péssimos, os que "cumpriam" e os que não tinham jeito para "aquilo"

Acontece em todas as profissões, ou nas diversas atividades, como tudo na vida, os professores não fugiam à regra, havia de tudo: os excelentes, os péssimos, os que "cumpriam" e os que não tinham jeito para "aquilo", estes últimos, como eu costumo dizer, não nasceram para fazer o que tinham escolhido ou eram obrigados a fazer por diversas razões.

Dos péssimos: destes não vou falar, pelo menos, por agora, neste testemunho. Dos que cumpriam: pouco há a dizer, faziam o suficiente para chegarem a casa, ao fim do dia, com a sensação do dever cumprido, era uma obrigação, passaram pela escola quase sem se dar por eles. Restam as outras duas categorias que eu escolhi para falar (podia ter subdividido noutras categorias, tais como: maus, medíocres e bons), mas fiz esta escolha.

Então, posto isto, vou começar pelo fim.
Os que não tinham jeito para "aquilo"
Nesta categoria havia vários: todos diferentes uns dos outros, mas de facto qualquer deles não tinha nascido para ser professor. Destes, quero prestar uma homenagem a um homem bom, com muito saber, que nós não soubemos aproveitar para aprender, o muito que ele tinha para nos ensinar sobre higiene e saúde, sim estou a falar do médico, Dr. Eugénio Nobre de Oliveira (Uma pessoa muito boa, um ser humano extraordinário, não pelo desempenho como professor, aquilo que muitos poderão considerar um "banana", mas pelo conhecimento que tive da sua generosidade fora da escola, para com o seu semelhante).

É difícil classificar as aulas deste professor: eram um caos; a sua pose serena e aprumada; explicava a matéria sem se deixar impressionar pelo ambiente; parecia que a plateia que o rodeava não estava ali. Os alunos distribuídos em pequenos grupos: uns jogavam às cartas; outros à batalha naval; outros ao jogo do galo; outros saíam e entravam na sala de aulas sem qualquer respeito pelo professor; os que não jogavam entretinham-se noutras brincadeiras que nada tinham a ver com a aula; não direi que não havia um ou outro na fila da frente que ficava atento às suas explicações. Dessas brincadeiras, lembro-me que numa aula, muitos dos alunos faziam aviões com folhas de papel, a dada altura, começaram a atirá-los dum lado para o outro, até que um foi na direção da cabeça do professor, baixou-se, o avião passou por cima, retomou a compostura e continuou a sua dissertação.

Dr. Nobre de Oliveira com a família (foto da cronologia do FB do filho Mário Oliveira, publicada publicamente)

Os Excelentes
A nossa escola teve muitos professores que podíamos classificar de excelentes, nem todos foram meus professores, tive no entanto, alguns excelentes professores, mas desses quero destacar dois que para mim foram as minhas referências durante o tempo que frequentei a escola. São muito diferentes um do outro, mas ambos com muito saber na matéria que lecionavam.

 O professor de Contabilidade, prof. Barracha, na minha opinião estava muito à frente do nosso tempo, era um brincalhão, brincava com a sua própria figura: foram várias as ocasiões em que o fez, usava calças com suspensórios e frequentemente puxava as calças até debaixo dos braços, ficando com as bainhas das calças a meio da canela, o que provocava um riso geral, que ele próprio iniciava, finda a brincadeira, tinha a capacidade de nos pôr a trabalhar novamente, com toda a disciplina, nisto era único, sem ter de exercer represálias para tal. Não é só por esta faceta que o considero de excelente, mas na matéria que ensinava era MESTRE, poucos terão sido os que não saíram dali habilitados, para desenvolver uma atividade, dentro desta área.

Prof. Barracha, na fila da frente do lado esquerdo de gravata (Foto de Filipe Santos)

O professor de Português, prof. Elias, postura séria e aprumada, distinguia-se pelo saber ensinar. Foi nas suas aulas que mais aprendi a expressar-me em Língua Portuguesa. Na minha opinião estava muito acima de todos os professores que tive nesta disciplina, pena que tenha tido apenas um ano aulas com ele, porque certamente se tivesse sido durante mais anos meu professor, hoje, não teria tanta dificuldade na escrita. Foi uma grande referência que tive na Escola Industrial e Comercial de Silves.

Prof. Elias na frente, ao centro (foto de Maria Helena Noronha)

F. Santos - Memórias da Juventude
21 de agosto de 2019

PS. Referi estes professores porque foram os que mais me marcaram, mas outros houve com desempenhos excelentes. Nem todos os professores da escola na década de 60, foram meus professores, outros terão passado pela nossa escola, que marcaram outros colegas, mas esta é a minha avaliação, muito pessoal. FS