sábado, 8 de agosto de 2020

Numa Caçada, o Jipe não aguentou com o “peso” da caça

A guerra colonial teve muitas facetas, direi mesmo que se desenrolaram ao longo desta guerra, muitas “guerras” paralelas. Uma delas foi a luta, dentro das condições adversas duma guerra, sabermos lutar por melhores condições para desfrutarmos dos prazeres dum bom petisco, inventando formas de arranjar alguma coisa mais do que nos era oferecido: fosse passando a “perna” ao vagomestre e subtraindo alguns alimentos extra; fosse participando em caçadas.

Estávamos no Leste de Angola, na estrada que nos levava do Luso a Gago Coutinho, mais propriamente junto ao rio Canage, uma terra de ninguém, como era nosso apanágio, desde o início da comissão. Éramos a Companhia de Caçadores 2505, a mal-amada, do Batalhão de Caçadores 2872.

Nas caçadas, muitas peripécias aconteceram: desde o vagomestre ter ficado abandonado, sozinho, durante longo tempo (testemunho já aqui contado em “uma caçada que podia ter corrido mal…”; desde o rebentamento duma mina, testemunho que espero que o camarada João Merca venha a escrever sobre ele. Esta mina não se destinava a provocar estragos naquela caçada, mas para uma operação de outra unidade que se desenrolaria na semana seguinte (as consequências deste rebentamento foram: alguns feridos ligeiros; um ferido grave que recuperou depois de 20 dias em coma, entre o Hospital do Luso e o Hospital Militar de Luanda e por último o castigo de 5 dias de prisão para 1º sargento da companhia); desde de, apanhados em franco delito, termos de dividir a caça com o comandante do Batalhão. Mas isso são outras histórias.

Numa caçada, onde tivemos grande sucesso, abatemos alguns gnus, vulgo “boi cavalo”, carregámos a caça num jipe Wills. Depois de andar alguns quilómetros, devido ao “peso” da caça, mas para mim depois de passados estes anos todos, pela falta de água no radiador, começou a deitar fumo através do capot, que rapidamente se transformou numa fumaça enorme, um nevoeiro, que parecia que emanava duma fogueira.  Felizmente seguia nessa “missão” o 1º cabo mecânico, que ficou ainda mais preocupado que os restantes membros de caça, incluindo um 1º sargento e um ou dois furriéis. O cabo mecânico analisou a situação que estava a acontecer, mas a solução não era fácil. Nisto apareceu alguém do grupo, não faço ideia quem. Terá sido mesmo o cabo mecânico ou algum condutor que seguia nesta missão, com uma solução milagrosa. A solução era: mijarmos todos para o depósito do radiador. Esta solução, na falta de outra melhor, foi aceite pelos graduados e foi passada à prática. Não sei se foi uma boa solução, mas o jipe chegou até ao acampamento com todos os troféus de caça. Já não me lembro, nem faço a mínima ideia, se pelos próprios meios ou se rebocado pelo “burro do mato”.

F. Santos -Memórias de Angola

08 de agosto de 2020

3 comentários:

  1. Esta história, fêz-me vir à memória outra identica, também passada no leste, no parque da Cameia. Vou contar; Fomos caçar e, apenas com um Unimog e atrelado; uma secção (10 militares). Tal como na anterior, caçamos, entre outros um gnu enorme. Só que, ao tentar-mos metê-lo no atrelado, os nossos camaradas todos juntos, não tinham força para tal.Tivemos de arranjar forças e inventar para o trazer-mos até à companhia, mas não ficou lá.

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  2. Eu também fui cabo mecanico nessa zona Alto muito não sei quantos elementos eram mas tinham que mijar muito para repor a falta de água.no sistema de referijacao

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