segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Invasão de Marcianos na Charneca de Torre Cercas

Durante o almoço de antigos alunos da Escola Primária da Fonte Figueira, o Gregorinho, meu amigo de infância, recordou várias peripécias que aconteceram durante o tempo em que frequentámos esta escola. Vou passar a contar uma dessas memórias.
 
Foto Green Trekker
Desta memória, sinceramente, não me recordava: tínhamos brincado com outros colegas, até de noite, - aqui acho que ele não exagera nada, porque isso acontecia frequentemente -, talvez tivéssemos andado na labuta para construir algumas "barragens", ou então tido outra brincadeira qualquer que nos entusiasmou. Regressávamos a casa já era noite cerrada, estava um escuro que não nos deixava ver nada, nisto, quando seguíamos pelo "carreiro" que nos conduzia até à casa dele, vislumbrámos no valado em frente à casa dos irmãos Sequeira e da Isilda, umas luzinhas às centenas, talvez aos milhares. O Gregorinho tinha ouvido umas "estórias" de "Marcianos", então, com a sua fértil imaginação, pensou que estaríamos perante uma invasão da terra, por aqueles seres. Todo ele tremia de medo, imagino o que teria acontecido se não tivesse a minha companhia. Eu não me terei preocupado muito, porque esqueci de todo este episódio. Nestas situações rumava sempre até à casa do meu tio Manuel Anselmo, pai do meu primo Vítor Simões, que ficava na encosta em frente, como normalmente sempre acontecia. Certamente, ter-me-á feito companhia até à minha casa, aproveitando também, para desfrutar de mais um serão à lareira.

O Gregorinho diz que o pai se zangou com ele por ter chegado tarde a casa e não ter ficado "convencido" com a desculpa. Mas eu acho que ele apanhou, foi uma grande "sova" (estou-me a vingar, Gregorinho, por teres denegrido a minha imagem na outra memória!).
 
Terminada toda esta aventura, vamos lá saber o que eram todos aqueles "Marcianos”! Eram nem mais nem menos luzicus, também conhecidos por pirilampos, que inundavam os valados da charneca de Torre e Cercas, em algumas épocas do ano.

F. Santos – Memórias de Infância
16 de dezembro de 2019

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Uma história de estevas, com medronhos à mistura

Estava um dia lindo, final de outono, início do inverno, um dia maravilhoso para passear no campo. Nesse dia, logo de manhãzinha, a minha mãe amassou a farinha, para levedar e mais tarde cozer o pão, recomendou-me que fosse apanhar lenha para pôr o forno a aquecer.

Medronheiro

Desafiei um amigo para ir comigo à lenha, partimos, levámos uns baraços de sisal para apertar os molhos, começámos a subir a serra, passámos pela casa do Júlio, mais à frente pela casa dos irmãos Bravo, filhos do Lenine, estávamos já em plena serra. Antes de começar a apanhar as estevas (secas para arder melhor), encontrámos dentro do matagal, umas árvores rasteiras, tinham entre os ramos umas bolinhas amarelas / vermelhas alaranjadas. Experimentámos, gostámos e começámos a comer sem parar.

Campo de estevas

Pouco tempo depois, fomos acometidos de fortes dores de cabeça com tonturas e dores no estômago. Regressamos a casa, com grande dificuldade a meio da tarde, sem lenha nem baraços. Os meus pais estavam muito preocupados e agitados. O pão, bem quentinho, já estava no tabuleiro, porque a minha mãe pediu a um vizinho a lenha necessária para aquecer o forno. Eu e o meu amigo ficámos de cama, com o estômago inchado, até altas horas do dia seguinte.

F. Santos – Memórias da Juventude
27 de novembro de 2019