terça-feira, 24 de setembro de 2019

Almoço convívio do Batalhão 2872 - Anadia 21 de setembro de 2019

Comemoração do 50º aniversário da partida para Angola
Realizou no dia 21 de setembro  a comemoração da partida par Angola do Batalhão de Caçadores 2872, com representações de todas as companhias.

Foi um excelente convívio que tentei aqui documentar neste vídeo.

Para recordar

terça-feira, 10 de setembro de 2019

Três “estórias cómicas” vividas, na Escola Industrial e Comercial de Silves nos anos 60.

Na Escola Industrial e Comercial de Silves, nos anos 60, aconteceram muitas “estórias”. Passados mais de 50 anos, achamo-las engraçadas. Vou tentar passar para o conhecimento público, algumas dessas “estórias”, que tive conhecimento, começando por relatar aquelas que presenciei mais de perto. Nas narrativas destas primeiras “estórias” serão visados 3 professores, que não vou mencionar os nomes, usando para isso, nomes fictícios. Os alunos envolvidos serão também conhecidos por nomes diferentes daqueles que os pais ou padrinhos encontraram para serem conhecidos quando vieram a este mundo.

Primeira estória
A professora de contabilidade “Graziela”
 
Um livro de contabilidade

A professora “Graziela” já não era uma jovem, tinha chegado à escola naquele ano letivo, laureada com o diploma de curso de “Económicas e Financeiras”, era esposa dum empregado bancário, que ao serviço do banco, tratava das contas.

No ano anterior um aluno, o “Baldas”, tinha-se revelado nas aulas do professor Barracha, como um aluno com especial apetência para resolver todos os problemas de cálculo e contabilidade. Este aluno teve durante todo esse ano, na disciplina de contabilidade, a nota mínima 20 valores. O professor Barracha no seu jeito brincalhão, sempre deixava os seus exercícios para o fim; quando só tinha o exercício do “Baldas”, interrogava a turma, qual seria a sua nota; ao que a turma no 1º exercício do ano, respondeu com as mais variadas classificações, não atingindo a nota do aluno; o professor puxando os suspensórios para cima (as calças subiam quase até aos joelhos), como era seu timbre, exibindo as folhas do exercício num salto, anunciava a nota: “20”. Nos exercícios seguintes, quando o professor fazia a mesma pergunta, toda a turma em uníssono respondia: “20”, ao que ele invariavelmente retorquia com os mesmos gestos de sempre: “não foi tanto, foi só 20”.

O “Baldas”, devido às jogatanas de futebol na cerca da feira, acabou por chumbar por faltas, nas disciplinas de línguas estrangeiras (mesmo que não tivesse as faltas suficientes para chumbar, talvez chumbasse na mesma), o que o levou a ter de repetir esse ano, no ano letivo seguinte.

Voltando à nossa professora “Graziela”, que não fazia jus ao diploma que trazia, talvez por falta de prática, ou algum esquecimento dos conteúdos que certamente teria adquirido durante o curso, dominava mal a matéria. No entanto, era uma professora muito rigorosa no cumprimento da pontualidade. É aqui que começa a primeira “estória cómica”: O “Baldas” durante as aulas ia resolvendo as dificuldades da professora, mas com o passar do tempo, apercebeu-se que poderia tirar proveito disso (armado em Xico Esperto); começou, então, a ficar sempre uma questão por resolver para a aula seguinte, com a professora, no final, a rematar: “vamos todos resolver em casa e na próxima aula, veremos quem acertou”; o “Baldas” ia sempre trazendo a resolução da questão em causa; a professora que era exigente na pontualidade, já tinha marcado muitas faltas por atrasos; até que o “Baldas” começou a chegar atrasado, às aulas, cerca de 10 minutos; a professora deixava-o sempre entrar; a determinada altura, os alunos que se encontravam na sala, virada na direção da Cooperativa Agrícola, caminho que o aluno percorria diariamente, iam para a janela esperando que ele aparecesse, “qual manhã de nevoeiro”, quando na rampa que descia na direção da escola, aparecia o “Baldas”, a professora, que não escondia o nervosismo, suspirava de alívio.

Segunda estória
1º de Maio

(Origem do 1º de Maio: depois de várias ações na primeira metade do século XIX, nos Estados Unidos, é convocada uma greve nacional para exigir a redução do horário de trabalho para todos os assalariados, “sem distinção de sexo, ofício ou idade”’. A data escolhida foi 1º de Maio de 1886. Esta greve culminou com os “8 mártires de Chicago”. A morte destes líderes operários não foi em vão. No dia 1º de Maio de 1890, o Congresso dos EUA regulamentou a jornada de oito horas diárias de trabalho.)

A professora “Bonitinha” era muito jovem, não me recordo se seria o seu 1º ano como professora. Em vésperas do 1º de Maio, implorou-nos que não faltássemos às aulas nesse dia, até chorou (talvez tenha sido ameaçada), depois, dizia ela: podíamos faltar a outra aula a seguir, que não nos marcaria faltas.

A grande maioria dos alunos daquela turma, não se impressionou com as lamúrias da professora, faltou nesse dia e foi “comemorar”, fazendo uma caracolada na foz da ribeira do Enxerim, no Rio Arade. Um colega, que o pai era proprietário duma taberna, levou um garrafão de vinho, o mais certo, sem o consentimento dele. Começamos as “comemorações” por volta do meio-dia e prolongaram-se pela tarde. A festa foi rija e como não estávamos habituados a beber, a dose foi demasiada, e, desde o local do convívio até junto a um poço nas proximidades da Cruz de Portugal, foi um calvário, com muitos dos convivas a chamar pelo “Gregório” durante o trajeto, o que me veio a acontecer mesmo junto ao referido poço: estava sentado, quando me levantei tinha a camisa e as calças num estado, que não era muito aconselhável apresentar-me assim em casa (tive de escolher a melhor altura para entrar e iludir a vigilância).

A professora não veio sofrer qualquer represália, porque nesse dia a sala de aulas não foi visitada por ninguém. Também os alunos não foram incomodados, porque a professora não lhes marcou faltas (queria era esquecer). Foi como se tudo tivesse decorrido normalmente. Não me lembro, se mais tarde, voltámos a falar deste acontecimento.

Terceira estória
Apanhar caranguejos e chumbo na pauta!

Caranguejo

Todos os alunos, que andaram na Escola Industrial e Comercial de Silves, na década de 60, conheceram os métodos do professor “Razalas Júnior”. A disciplina que lecionava não tinha exercícios, a avaliação era feita através de chamadas orais, que decorriam à velocidade da “luz” (tu.. tu.. tu..tu.. tu…….).

O “Nabo” era um aluno que não convivia muito bem com estes métodos supersónicos… Na penúltima aula, o professor marcou chamadas de salvação, a serem realizadas na última aula, para um conjunto de alunos, onde ele se incluía.

No dia marcado para a “salvação”, o “Nabo” combinou com um amigo irem apanhar caranguejos para a ilha da Nossa Senhora do Rosário. Para isso foram até à praça de peixe e pediram aos peixeiros, aquelas sardinhas que estavam moídas, com cordas de sisal, serapilheira e canas, fizeram pandulhos, artes que serviram para serem utilizadas na pesca. O amigo durante o caminho tentou demover o “Nabo”, para que ele não fosse à pesca, porque tinha a oportunidade de passar, naquela disciplina. O “Nabo, já meio chateado, retorquia: “mexe-te e vamos é apanhar caranguejos”. E assim foi: a maré estava a encher, muito boa para a pesca destes crustáceos; apanharam um balde cheio de caranguejos; atiram os pandulhos ao rio e voltaram para casa. No dia seguinte, o “Nabo”, soube que os alunos que tinham feito a chamada de salvação, tinham passado, ele, inevitavelmente, apanhou um chumbo na pauta.

Os professores: um teve um fim trágico; os outros, não sei se estarão ainda entre nós. Os alunos: estarão ainda todos entre nós, salvo algum que participou nas “comemorações” do 1º de Maio, eventualmente, possa ter deixado o nosso convívio.

Fotos da NET, sem indicação de autor

F. Santos – Memórias da Juventude
09 de setembro de 2019

PS. A razão para os nomes que aparecem, serem fictícios, tem apenas a ver com uma decisão que tomei ao escrever este texto: não causar qualquer constrangimento, ou algum mal-estar, em relação às pessoas envolvidas, e, eventualmente, aos descendentes. Na mesma medida se alguma vez vier a escrever sobre os professores “péssimos”, talvez venha a usar outros nomes, mas, nessas memórias, quem andou naquela época na escola, vai identifica-los com facilidade.
 FS.