segunda-feira, 26 de março de 2018

Um pouco dos primeiros tempos de menino e nos bancos de escola

Nasci na charneca de Torres e Cercas, da freguesia e concelho de Silves, decorria o mês de agosto de 1947, precisamente no dia 25. O meu pai conciliava a atividade de agricultor com a profissão de pedreiro, minha mãe era operária corticeira. Morávamos com a minha avó materna (viúva), que possuía algumas terras com alfarrobeiras, amendoeiras, figueiras e oliveiras.

Casa onde nasci (hoje, está em ruínas)

Outra casa onde morei (era muito diferente nesse tempo)

Em 1954, precisamente no mesmo dia, nascia o meu irmão. Em outubro desse mesmo ano, entrei para a  escola primária, um posto escolar na Fonte Figueira, que distava da minha casa cerca de 5 KM, percurso que fazia a pé de ida e volta, por montes e vales. As aulas eram da responsabilidade duma regente escolar, D. Maria Alves, funcionavam numa única sala, 20 a 30 alunos da 1ª à 4ª classe, em fraterna coexistência de classes sociais e de género, onde o número dos que andavam descalços ultrapassava os que usavam botas cardadas e com protetores, amolecidas pelo sebo e compradas para durarem até à eternidade. Nos jogos de futebol que se realizavam no pátio da escola, todos tinham de jogar descalços - era a igualdade a impor-se por força da justiça das crianças. No jogo da apanhada, havia a convicção de que quem andava descalço corria mais do que os outros - aqui as botas eram postas de lado e de novo a igualdade, agora, por outras razões. Os meninos jogavam ainda, pião, berlinde e viam as meninas jogar a macaca/manecas, ringue, etc…, havia, outros jogos que jogávamos em conjunto, tanto meninos como meninas, exemplos: lencinho da botica, cabra cega e escondidas... e outros.

A professora Maria Alves, no almoço de homenagem,  dos ex-alunos da escola primária da Fonte Figueira
Visitei-a no verão de 2016 (disse-me que eu era o seu aluno preferido, mas deve dizer o mesmo a todos)
Com 96 anos, estava nessa altura muito lúcida ( fez 98 anos em 11 de fevereiro de 2018)
Foto cedida por Lurdes Gonçalves:
As irmãs da professora Maria Alves , Conceiçanita à esquerda e Sebastianita à direita

Casa onde funcionou o posto escolar, hoje transformada em casa de habitação

Em 1959 fiz o exame de admissão na Escola Industrial e Comercial João de Deus (não prestei provas para terminar a instrução primária, 4ª classe, devido a uma norma que isentava os alunos que faziam exame de admissão ao 1º ciclo no caso dos liceus e ciclo preparatório no caso das escolas técnicas). Entrei nesse mesmo ano para a Escola Industrial e Comercial de Silves, ano da inauguração.

Escola Industrial e Comercial de Silves (atual Escola Secundária de Silves)

F. Santos - Memórias de infância
Janeiro de 2018

5 comentários:

  1. Respostas
    1. A D. Conceição era professora de trabalhos manuais no C. Preparatório 5⭐. Conheci todas essas Senhoras. Boa noite serena. Os miúdos hoje têm tudo, direi demais, não fazem ideia alguma do que foi o passado. Felizmente não senti muito, estava mais perto da cidade. Hoje tenho saudades daquela enorme quinta, onde cresci e vivi até aos 23 anos. 🤗

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  2. As memórias nos induzem a paisagens que não as temos mais. Bonitas e reais as tuas, aonde a necessidade nos impulsiona a novos horizontes, neles nos perdemos para ganhar o traquejo da sobrevivência, para uma nova vida, nem sempre semelhante a pureza que nos embalou. Vejo no bonito relato que nos trazes, da infância, a inocência das brincadeira, o papel da professora, como molas impulsionadoras do respeito, do aprendizado e alicerces da nossa vida futura. Meu abraço Fernando

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  3. Recordar e viver,nada tem a ver com as brincadiras de hoje, gostei muito destes postes fernando, conheço quaze isto tudo, porque tambem nasci ai, embora sejas mais velho ainda apanhei muita coisa.

    Abraço

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