Durante o mês de agosto, o meu pai construía um
objeto retangular, em madeira, com duas aduelas de barril na parte inferior,
que o fazia balouçar. Pensava eu que seria o meu melhor brinquedo de sempre.
No dia 25 de agosto de 1954, comemorava o meu sétimo
aniversário, preparava-me para entrar em outubro na escola primária. Nesse dia,
o ambiente em casa, era um misto de alegria e apreensão, alegria pensava eu que
era pelo meu aniversário, apreensão imaginei que a minha mãe estaria doente,
porque ainda não se tinha levantado. Nessa ocasião, a minha AVÓ materna, pegou num cesto de verga e convidou-me para ir
apanhar figos. Demoramos muito tempo. Eu apanhava os figos até onde alcançava,
quase sempre verdes. A minha avó apanhava os maduros para o cesto e também me
ia dando alguns que eu comia.
Regressámos a casa, e qual não é o meu espanto,
quando me deparei com um bebé muito pequenino, deitado naquela geringonça, que
o meu pai tinha construído. Tinha chegado o meu irmão, precisamente, no dia do
meu aniversário! Não veio de avião, nem de comboio, nem de camioneta, porque
estes transportes não chegavam a Torre e Cercas, de cegonha! Não soube, porque estive muito tempo ausente, o
que fiquei a saber, é que aquilo que o meu pai tinha construído, não era o meu
melhor brinquedo de sempre e de certa maneira virou castigo. O que seria para a
brincadeira, de brincadeira nada teve, serviu para eu o embalar vezes sem conta. A minha sorte foi que a escola
começou em outubro e fiquei liberado dessa tarefa, mesmo assim ainda foi muito
tempo.
Berço artesanal (o
que o meu pai construi tinha esta configuração, mas com aduelas de barril na
parte inferior
F. Santos - Memórias de infância
4 de abril de 2018
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