quinta-feira, 5 de abril de 2018

Aquilo que pensei ser o meu melhor brinquedo de sempre...

Durante o mês de agosto, o meu pai construía um objeto retangular, em madeira, com duas aduelas de barril na parte inferior, que o fazia balouçar. Pensava eu que seria o meu melhor brinquedo de sempre.

No dia 25 de agosto de 1954, comemorava o meu sétimo aniversário, preparava-me para entrar em outubro na escola primária. Nesse dia, o ambiente em casa, era um misto de alegria e apreensão, alegria pensava eu que era pelo meu aniversário, apreensão imaginei que a minha mãe estaria doente, porque ainda não se tinha levantado. Nessa ocasião, a minha AVÓ materna,  pegou num cesto de verga e convidou-me para ir apanhar figos. Demoramos muito tempo. Eu apanhava os figos até onde alcançava, quase sempre verdes. A minha avó apanhava os maduros para o cesto e também me ia dando alguns que eu comia.

Regressámos a casa, e qual não é o meu espanto, quando me deparei com um bebé muito pequenino, deitado naquela geringonça, que o meu pai tinha construído. Tinha chegado o meu irmão, precisamente, no dia do meu aniversário! Não veio de avião, nem de comboio, nem de camioneta, porque estes transportes não chegavam a Torre e Cercas, de cegonha! Não  soube, porque estive muito tempo ausente, o que fiquei a saber, é que aquilo que o meu pai tinha construído, não era o meu melhor brinquedo de sempre e de certa maneira virou castigo. O que seria para a brincadeira,  de brincadeira nada teve, serviu para eu o embalar vezes sem conta. A minha sorte foi que a escola começou em outubro e fiquei liberado dessa tarefa, mesmo assim ainda foi muito tempo.

Berço artesanal (o que o meu pai construi tinha esta configuração, mas com aduelas de barril na parte inferior

F. Santos - Memórias de infância
4 de abril de 2018

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