(Fui posto em causa e respondi ao
desafio...)
A luta
pelo poder na escola foto da net sem identificação de autor |
Na escola da Fonte Figueira, o
Joaquim Martins e o Manuel Felícia já tinham terminado a instrução primária,
primeiro o Joaquim, depois o Manel, pela ordem lógica de antiguidade o controlo
do recreio passaria a pertencer-me, pensava eu, mas aqui não era bem essa
premissa que orientava a sucessão, seria se não fosse contestado.
Quando se iniciaram as aulas,
assumiu-me como o novo "comandante das tropas", mas nunca exerci esse
poder e as brincadeiras iam-se desenvolvendo normalmente. Eis que chega, já com
o ano letivo a decorrer, um novo aluno, que transitava de outra escola para a
Fonte Figueira. Os pais deste novo colega tinham vindo morar para a encosta do
outro lado a escola a uns 500 metros da mesma, ao cimo da subida. Não me lembro
o nome deste colega, vou chamar-lhe "Eduardo".
O Eduardo era muito maior do que eu (10 e 15 cm) e seria, também, mais velho,
pese embora vir frequentar uma classe mais atrasada, talvez fruto das mudanças
de escola, que certamente, foi obrigado a fazer.
Com a chegada do Eduardo o meu poder foi posto em
causa, nem só por ele, mas também pelos restantes alunos da escola. Nesse dia,
encontrava-me junto a um charco, no fim da descida, antes da subida que dava para
a casa do Eduardo, ele estava no início dessa descida e atrás posicionavam-se
um grupo de alunos, que começaram a entoar um cântico: "o Eduardo é que manda! O Eduardo é que manda! O Eduardo é que
manda!!!"; perante este coro de aceitação, ele olhou para mim com ar
de desafio e atirou: "sim eu é que
mando"; olhei para ele, fixei-o de alto a baixo e pensei: "não vou dar-te o poder sem luta";
nisto desafiei-o: "Ah tu é que
mandas, então vamos lá ver quem manda, vem e luta comigo". A reação do
Eduardo não se fez por esperar, confiante da sua força: correu na minha direção;
mais uma vez, fixei-o; fiquei atento aos seus movimentos e quando ele se
precipitou sobre mim, baixei-me, agarrei-lhe as pernas; ele voou e foi
estatelar-se no meio do charco. Ficou completamente enlameado, levantou-se e
correu até à casa onde morava. Ao mesmo tempo, o grupo que o tinha aclamado um
pouco antes, aclamava-me agora com o mesmo cântico: "o Fernando é que manda! O Fernando é que manda! O Fernando é que
manda!!!
Um charco já seco. O
da memória estava cheio de lama
|
Este poder terminou pouco depois,
quando começou a preparação para o exame de admissão à EIC de Silves, onde
participavam, o Gregorinho e a Nelita, agora todos os intervalos e o período
depois de terminarem as aulas, eram ocupados com essa preparação, nem sei quem
veio a exercer esse poder a seguir. Brincadeiras só depois das 4 horas da tarde
no caminho de casa com o Gregorinho e eventualmente com algum retardatário que
teria ficado até essa hora.
Quanto ao Eduardo, para além
desta luta, tenho poucas recordações dele, penso até que não terá ficado na
escola até ao fim do ano letivo.
A professora nunca veio a tomar
conhecimento desta luta.
F. Santos - Memórias de Infância
3 de setembro de 2018
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