Foto
de João Gonçalves (Xove): Equipa do Grupo Desportivo da Cruz de Portugal - 1964
De pé da esquerda para a direita: Zé Viola, Fernando A. Simões Santos, Amador Rosa, Manuel João, João Gonçalves (Xove), Zé Sabas.
Em baixo pela mesma ordem: Eduardo Cabrita dos Santos (Fofas), Martinho (Vila Real), Vitorino Nobre Rodrigues, Edmundo Estrela (Caião à Cova) e João Matoso (Xanin).
Alguns seminaristas da zona de
Lisboa, passavam férias em Silves, na residência do padre Oliveira. Não sei
como nasceu a ideia de organizarem um torneio de futebol juvenil nesta cidade.
Tivemos conhecimento desse torneio, onde podiam participar equipas com
jogadores com menos de 17 anos e que não tivessem vínculo federativo. Participaram
neste torneio, as equipas: Jardim, Cerca da Feira, Académico, Escuteiros, Mata e Cruz
de Portugal, num torneio de todos contra todos. Peço desculpa se falta aqui
alguma equipa.
Começamos a formar uma equipa de
amigos, que ia do Enxerim, Aldeia, Música, Encalhe, Monte Branco e Pinheiro.
Formada a equipa, não foi muito difícil escolher o nome, surgiram alguns,
conforme a origem dos seus elementos, mas chegamos a um consenso e o nome escolhido
foi: GD Cruz de Portugal. Precisávamos dum treinador, ou melhor, uma equipa sem
treinador, não é uma equipa de respeito: nome recaiu no Joaquim Cartaxo, que
aceitou prontamente o cargo. Depois faltavam os equipamentos, foi o nosso
treinador que providenciou junto de outra equipa de Silves, “Os Onze Estrelas”,
da qual ele fazia parte (equipamento todo branco - até dizíamos por graça que
era o Real Madrid - e com as camisolas devidamente numeradas). Estava completa
a equipa e foi só inscrevê-la no torneio.
1ª contrariedade
Fizemos alguns treinos antes do
torneio com outras equipas ou grupos de amigos, onde vencemos todos. Mas foi ai
que tivemos a 1ª contrariedade, no último treino o “Costa Pereira” (Manuel
Albano), não tocou na bola, dada a fragilidade do nosso oponente, no final do
treino disse-nos: “eu aqui não brilho, vou jogar para a equipa do Jardim e
assim foi, ficamos sem o único guarda-redes que tínhamos. Tivemos que recrutar
dentro dos jogadores de campo um guarda-redes, que recaiu no Zé Sabas (que mais
tarde chegou jogador dos seniores no Silves Futebol Clube, nesta posição).
2ª Contrariedade
Começou o torneio, no primeiro
jogo, à hora do início da partida, tínhamos apenas 9 jogadores. Para completar
a equipa faltavam 2 jogadores, sendo um deles, o Zé Sabas que devido à
transferência de última hora era no nosso guarda-redes. O Sabas andava a
trabalhar durante as férias escolares de verão. Tivemos, durante um período de
cerca de 10 minutos, recrutar outro jogador para a baliza, terá sido o João
Xove, mas não tenho a certeza. Montamos durante esse tempo um sistema defensivo
que nos permitiu aguentar o resultado em branco, entretanto chegaram os
jogadores que faltavam e a equipa ficou completa. Ganhámos esse jogo, não
recordo contra que equipa, nem por que resultado.
A vingança
O Manuel Albano que nos tinha
abandonado, segundo ele, porque não brilhava na nossa equipa, transferiu-se
para a equipa do Jardim, pouco antes do início do torneio ter começado. No jogo
que realizámos contra esta equipa, começámos em desvantagem, perdíamos por 0-1
no final da primeira parte. O jogo estava difícil, com perspetivas de o
perdermos e consequentemente perder o torneio para o nosso maior rival. No
início da segunda parte beneficiámos de um penalty (hoje, grande penalidade), o
João Xove, agarrou a bola e disse: vou-me vingar! Converteu-a em golo e disse:
nem que fosses o Costa Pereira (este guarda redes, jogava na altura no Benfica
e era considerado o melhor naquela posição: internacional por Portugal e
campeão europeu pela sua equipa). Acabámos por marcar mais um golo e vencemos o
jogo.
A Taça
No final do último jogo,
consumou-se a vitória do GD da Cruz de Portugal, só com vitórias. Surpresa
total, a taça não apareceu e ficámos muitos desiludidos. Não ficámos quietos, nem
era essa a nossa postura, imaginamos logo como a devíamos recuperar: então,
decidimos ir até à residência do prior padre Oliveira e reivindicar o troféu. O
pessoal todo empoleirado em cima dos muros a pedir para lhe ser entregue a
taça. Ao fim de algum tempo apareceu a taça, entregue por um dos seminaristas.
O problema é que depois de termos a taça em nosso poder não sabíamos o que
fazer com ela, que tanto tínhamos desejado: não tínhamos sede, colocou-se a
hipótese da taça ser entregue ao treinador Joaquim Cartaxo, outros diziam que
deveria ficar na “música”, sociedade filarmónica, mas a maioria não concordava
nem com uma, nem com outra solução. Apareceu então um jogador, o Eduardo Fofas,
que se responsabilizou por ficar com a TAÇA.
Eduardo, hoje estás encarregado
de marcar um almoço com toda a equipa (penso que ainda estão todos entre nós),
levares a taça, para tirarmos uma foto, que não foi possível nessa
altura.
F.Santos – Memórias da Juventude
12 de fevereiro de 2020