quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Corridas na Ponte do Caniné nos anos 60

(Aventuras inconscientes da adolescência)

Foto de Aníbal Vieira: Ponte do Caniné num visita de estudo da minha turma do 2º ano do Curso de Formação Geral de Comércio, no ano letivo de 1962/63 (pode ver-se os travessões, mas as telhas não são visíveis nesta foto)
A Ponte do Caniné, não era uma ponte tradicional, para passar de um lado para o outro de um rio, ou para atravessar um vale. Esta ponte servia para transportar a água do canal, que chegava ali, vinda da barragem de Silves. Em resumo era um aqueduto à superfície, construído com a finalidade de conduzir a água do lado do Enxerim para o Monte Branco e ultrapassar o vale onde passava uma estrada, que vinha do “Encalhe” e se dirigia para a serra. A sua construção era feita de pilares de cimento armado e ao cimo com duas caleiras de telhas, com travessões de cimento, em paralelepípedos, ao longo de toda a ponte. 

Os habitantes, especialmente, os do Monte Branco, usavam esta ponte para atravessar de um lado para o outro, colocando os pés sobre os travessões.


Na minha juventude, havia no Monte Branco seis ou sete rapazes da mesma geração e outros um pouco mais novos. Os da minha geração eram: Fernando Santos, Manuel Albano, Abel Santos, António Caixinha e Carlos Albano. Acontece que passávamos regularmente sobre esta ponte para descer para o Enxerim e ir até à foz do rio do mesmo nome, no rio Arade, onde havia alguns pegos, “as nossas praias”,que faziam as delícias destes banhistas. Tomávamos ali os nossos maravilhosos banhos.

Certo dia, no regresso dos banhos no rio Arade, começámos a fazer corridas sobre a ponte: um em cada caleira, usando os travessões, que perigo! Fizemos muitas corridas: o Manuel Albano era o campeão e o mais “maluco”; apenas eu lhe dava alguma luta, mas ele ganhava sempre. Um dia pensei: “hoje vou ganhar-te” e delineei uma estratégia; no final havia sempre a tendência para diminuir a velocidade, porque a seguir havia o leito normal do canal e saímos sempre pelas margens, um por cada lado; eu, secretamente, em vez de diminuir a velocidade, ainda aumentei, passei o último travessão em primeiro lugar e mergulhei no canal, onde tomei mais um banho com toda a roupa vestida. Foi a única vez que o venci.

Noutra ocasião, coloquei mal o pé sobre o penúltimo travessão e fui embater com o peito no último, fiquei com um vergão do lado direito, possivelmente, terei fraturado algumas costelas, mas não fiquei a saber, porque mantive esta situação em segredo, aguentando as dores durante alguns dias, até que as escoriações e o sofrimento passou.

Hoje, que sou avô, até me arrepia de pensar que os meus netos entrariam numa brincadeira destas tão perigosa.

F. Santos – Memórias da Juventude
19 de fevereiro de 2020
 


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