(Pego do Morgado / Pego da Torre, na
Ribeira do Arade)
A ribeira do Arade / rio Arade, nasce na serra do Caldeirão, recomeça o seu curso na Barragem do Arade, passa por Silves e desagua no Oceano Atlântico, entre Ferragudo, no concelho de Lagoa, e Praia da Rocha, no concelho de Portimão. Outrora navegável até Silves, onde existia um importante porto. Hoje, devido ao assoreamento, apenas é navegável entre Silves e Portimão por pequenos barcos, sendo Portimão, atualmente, o grande porto do Arade.
Barragem
do Arade / nascente da rio Arade
Foz do
Rio Arade - Portimão
Há vários locais nesta ribeira / rio que frequentei durante o tempo de
juventude,
até mais ou menos aos 17 anos (Foz da Ribeira do Enxerim, Nogueira, Levada, Rocha Branca e Ilha), mas nesta história vou reportar-me à ribeira entre a Ponte de Santo
Estévão e as passadeiras antes da Fonte Figueira, que davam acesso ao caminho
que nos levava à Norinha.
Neste curso de água havia vários pegos, onde os
rapazes tomavam banho. Foi aqui que terão sido inventadas as praias do "nudismo",
passe a brincadeira. Destes pegos quero destacar o "Pego do Morgado",
nome porque o conhecíamos por se situar mesmo em frente da esquina da horta do
morgado de Santo Estévão, também
conhecido por "Pego da Torre". Distava mais ou menos 1 km da Ponte de
Santo Estevão em direção à nascente. Entre o pego e ponte era apenas uma
corrente onde crescia muita atabúa.
Um
pego da Ribeira do Arade
Neste pego juntavam-se os miúdos entre os 7 e os 12 /
13 anos, de vários locais da charneca de Torre e Cercas, Santo Estévão e
Pedreira. Aqui aprenderam a nadar muitos amigos da escola primária da Fonte
Figueira na década de 50, eu, o Zé Joaquim Simões, o meu primo Vítor Simões, o
Zé Sequeira Martins, o Joaquim Sequeira Martins, o Domingos Caetano, o Fernando
Sequeira, o Zeferino, o Zé Domingos e muitos mais que a memória não consegue
recordar.
Na margem direita, do lado norte, havia uma barreira de
onde mergulhávamos, na margem esquerda, do lado sul, era a parte mais baixa
onde tomavam banho os que ainda não sabiam nadar. Certo dia, tinha eu uns 7
anos, encontravam-se muitos destes amigos, que mencionei, a veranear: os mais
velhos já nadavam; os mais novos como eu
ainda só íamos com a água até aos joelhos; nesse dia eu, o meu primo Vítor e
outros amigos cortámos atabúa e construímos molhos ("jangadas"), que
atámos com junco; eu e o meu primo, fretámos um desses molhos, com ele na
frente e eu atrás; ao atingirmos o meio do pego a
"jangada" começou a desagregar-se e a perder parte da atabúa; o meu
primo saltou e ficou num sítio onde tinha pé; eu agarrei-me ao que restava da
"jangada", quase desfeita, que se dirigia para a parte mais funda, não
restava quase nada; nessa altura venci o medo, mergulhei com a cabeça debaixo de água, dei algumas
braçadas e cheguei até à margem. Sentei-me, quase sem folgo, fixei o olhar no
pego como uma estátua, nisto pensei, eu consegui chegar até aqui, se mergulhar
da barreira, consigo atravessar o pego a nadar debaixo de água. Experimentei
com sucesso. Não sei quantas vezes repeti, mas terão sido imensas, porque
acabei por ficar sozinho até ao pôr do sol e já nadava à superfície.
Corri para casa, passei pelo "Palmeiral", pelo
"forno da cal", encosta acima, cheguei a casa cansado, já o sol tinha
desaparecido e a noite fazia a sua aparição. Ia numa grande euforia para contar
a toda a gente o meu feito. Já sabia nadar, mas tive azar, ao primeiro que
encontrei e manifestei a minha alegria pela proeza, o meu pai, apanhei logo uma
bofetada, por ter chegado tão tarde. Não contei a mais ninguém.
Terá
sido assim que aprendi a nadar
Nessa noite, ao jantar, amuei: sentado à mesa, não comia, a minha mãe dizia:
"come Fernando! Porque não comes?" Eu com a cabeça baixa ia dizendo
com voz muito sumida: "não tenho fome". Deitei-me sem jantar e chorei
até adormecer.
Fotos da NET sem autoria conhecida
F. Santos - Memórias de infância
17 de abril de 2018
São memórias boas, apesar das contrariedades. Conheci bem Ferragudo mas já numa fase adulta.
ResponderEliminarAbraço