"Peregrinação"
e outras "estórias" desse tempo
O colega da escola primária da Fonte Figueira, José Joaquim
Simões, lançou um desafio: "...seria extraordinário que um dia destes nos
juntássemos mesmo que fosse um pequeno grupo de amigos e fossemos ao local de
residência de cada um de nós, muitos não temos lembranças...". Esta ideia
ganhou adeptos no grupo do Facebook, "ex-alunos da escola primária da
Fonte Figueira - Silves" e no dia 29 de julho de 2018, realizou-se esse regresso
ao nosso passado, cerca de 13 amigos constituíram o grupo expedicionário. Às 10
horas partiram dos Queimados (restaurante Casinhas), em direção às habitações onde
moraram outrora.
Queimados (Restaurante
Casinhas)
Aqui situava-se a casa dos Felícia no meu tempo de
escola
Na
primeira estação, estivemos na casa onde residiram, no tempo de escola, os
colegas Luís Correia e Teresa Correia, antes de rumarmos na direção dos Montes,
que seria a segunda estação.
A 1ª casa visitada, ainda com a traça de antigamente
(residência antiga de Luís Correia e Teresa
Correia)
Alguns dos membros do grupo na 1ª casa visitada
Depois
dos Montes (2ª estação), visionámos da estrada as casas do José Sequeira e Joaquim
Sequeira, da Isilda, do Gregorinho, e parámos na terceira estação, casa da Conceição
Santos, já com um novo visual. Daí fotografei a 1ª casa do meu primo Vítor
Simões e ao longe a casa da Dália Neves, minha prima, que ali viveu com os seus
familiares, meus tios e primos. No fim da linha parámos na quarta estação, casa
onde vivi até aos 11 anos. No regresso passámos pelo pego da Torre, onde quase
todos aprendemos a nadar, sem o conseguirmos ver devido ao canavial bravio que
por ali cresceu. Seguimos até a quinta estação, casa do Zé Joaquim Simões, logo
ao lado, passámos pela casa onde nasceram o Domingos e o Fernando Caetano, voltamos
de novo à ribeira, parámos na casa dos avós do Zé Joaquim Simões (sexta
estação), antes de rumarmos até à Fonte Figueira (sétima estação). Esta fonte, durante
muito tempo, foi o grande lugar de abastecimento de água à população da
charneca. Por fim regressamos ao Casinhas (estação terminal), onde o grupo que
não fez a viagem nos aguardava (cerca de 34 amigos ao todo), para o almoço que
se prolongou pela tarde dentro.
Uma
vista dos Montes
Valado junto da casa do Vítor
Simões, por onde
passei centenas de vezes, a caminho da escola (vê-se a casa da Dália ao fundo)
passei centenas de vezes, a caminho da escola (vê-se a casa da Dália ao fundo)
Traseiras
da casa onde morei até aos 11 anos
Residência
do Zé Joaquim Simões
Casa
dos avós do Zé Joaquim Simões (Ribeira)
Fonte Figueira
(local de abastecimento de água, onde podemos ver por
cima os ramos da figueira)
Como atrás referi, estava previsto um almoço, onde muitas "estórias" foram contadas, duas delas, narradas pelo nosso amigo e colega Gregório dos Santos Álvares (Gregorinho), memórias, que vou narrar a seguir, porque ele me elegeu como uma das personagens principais:
Primeira "estória
O Gregorinho “denegriu” a minha imagem, como estudante, na Escola Primária da Fonte Figueira
Dizia o Gregorinho, que eu só brincava e que era um estudante "baldas", ali na presença de todos aqueles amigos "denegriu" a minha imagem, que eu tanto fazia por manter limpa. Nas palavras dele: "os teus cadernos, eram torcidas enroladas e todos sebentos, quase não se percebia o que estava lá escrito"; mais à frente remata com esta frase: "a professora pediu-te mais de dez vezes o Bilhete de Identidade e só o trouxeste quando ela te ameaçou que não te levava a exame".
De facto nunca fui um aluno
"arrumadinho e penteadinho", talvez ele tenha alguma razão, mas aqui
há uma contradição com a opinião da professora: ou eu não era tanto assim como
ele descreve, ou tinha muita arte para enganá-la. O discurso na voz da
professora, numa visita que efetuei, no verão de 2016: "tu eras o meu
aluno preferido"; e continuou: "no exame de admissão que fizeste à
escola de Silves, o diretor fez-te muitas perguntas e tu ias respondendo a
todas, até que ele te perguntou: 'o que é que queres que eu te pergunto mais?'
e, tu respondeste: 'na sei!', finalmente havia uma pergunta que não
sabias".
Segunda "estória"
Invasão de Marcianos na Charneca de Torre Cercas
Desta memória, sinceramente, não
me recordava: tínhamos brincado com outros colegas, até de noite, - aqui acho
que ele não exagera nada, porque isso acontecia frequentemente -, talvez
tivéssemos andado na labuta para construir algumas "barragens", ou
então tido outra brincadeira qualquer que nos entusiasmou. Regressávamos a casa
já era noite cerrada, estava um escuro que não nos deixava ver nada, nisto,
quando seguíamos pelo "carreiro" que nos conduzia até à casa dele, vislumbrámos
no valado em frente à casa dos irmãos Sequeira e da Isilda, umas luzinhas às
centenas, talvez aos milhares. O Gregorinho tinha ouvido umas
"estórias" de "Marcianos",
então, com a sua fértil imaginação, pensou que estaríamos perante uma invasão
da terra, por aqueles seres. Todo ele tremia de medo, imagino o que teria
acontecido se não tivesse a minha companhia. Eu não me terei preocupado muito,
porque esqueci de todo este episódio. Nestas situações rumava sempre até à casa
do meu tio Manuel Anselmo, pai do meu primo Vítor Simões, que ficava na encosta
em frente, como normalmente sempre acontecia. Certamente, ter-me-á feito
companhia até à minha casa, aproveitando também, para desfrutar de mais um serão
à lareira.
O Gregorinho diz que o pai se zangou por ter chegado tarde a casa e não ter ficado "convencido" com a
desculpa. Mas eu acho que ele apanhou, foi uma grande "sova"
(estou-me a vingar, Gregorinho, por teres denegrido a minha imagem na outra
memória!).
Terminada toda esta aventura, vamos lá saber o que
eram todos aqueles "Marcianos”!
Eram nem mais nem menos luzicus, também
conhecidos por pirilampos, que
inundavam os valados da charneca de Torre e Cercas, em algumas épocas do ano.
F. Santos - Memórias de infância
09 de agosto de 2018
Foto
de Rosa Nunes: o Gregorinho ao fundo, contando as suas "estórias"
F. Santos - Memórias de infância
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