domingo, 12 de agosto de 2018

Regresso por um dia às habitações do tempo da escola primária

"Peregrinação" e outras "estórias" desse tempo
O colega da escola primária da Fonte Figueira, José Joaquim Simões, lançou um desafio: "...seria extraordinário que um dia destes nos juntássemos mesmo que fosse um pequeno grupo de amigos e fossemos ao local de residência de cada um de nós, muitos não temos lembranças...". Esta ideia ganhou adeptos no grupo do Facebook, "ex-alunos da escola primária da Fonte Figueira - Silves" e no dia 29 de julho de 2018, realizou-se esse regresso ao nosso passado, cerca de 13 amigos constituíram o grupo expedicionário. Às 10 horas partiram dos Queimados (restaurante Casinhas), em direção às habitações onde moraram outrora.

Queimados (Restaurante Casinhas)
Aqui situava-se a casa dos Felícia no meu tempo de escola

Na primeira estação, estivemos na casa onde residiram, no tempo de escola, os colegas Luís Correia e Teresa Correia, antes de rumarmos na direção dos Montes, que seria a segunda estação.

A 1ª casa visitada, ainda com a traça de antigamente
(residência antiga de Luís Correia e Teresa Correia)

Alguns dos membros do grupo na 1ª casa visitada

Depois dos Montes (2ª estação), visionámos da estrada as casas do José Sequeira e Joaquim Sequeira, da Isilda, do Gregorinho, e parámos na terceira estação, casa da Conceição Santos, já com um novo visual. Daí fotografei a 1ª casa do meu primo Vítor Simões e ao longe a casa da Dália Neves, minha prima, que ali viveu com os seus familiares, meus tios e primos. No fim da linha parámos na quarta estação, casa onde vivi até aos 11 anos. No regresso passámos pelo pego da Torre, onde quase todos aprendemos a nadar, sem o conseguirmos ver devido ao canavial bravio que por ali cresceu. Seguimos até a quinta estação, casa do Zé Joaquim Simões, logo ao lado, passámos pela casa onde nasceram o Domingos e o Fernando Caetano, voltamos de novo à ribeira, parámos na casa dos avós do Zé Joaquim Simões (sexta estação), antes de rumarmos até à Fonte Figueira (sétima estação). Esta fonte, durante muito tempo, foi o grande lugar de abastecimento de água à população da charneca. Por fim regressamos ao Casinhas (estação terminal), onde o grupo que não fez a viagem nos aguardava (cerca de 34 amigos ao todo), para o almoço que se prolongou pela tarde dentro.
 
Uma vista dos Montes

A primeira residência do Vítor Simões (em ruínas)

Valado junto da casa do Vítor Simões, por onde
passei centenas de vezes, a caminho da escola (vê-se a casa da Dália ao fundo)

Traseiras da casa onde morei até aos 11 anos

Residência do Zé Joaquim Simões

Casa dos avós do Zé Joaquim Simões (Ribeira)
 
Fonte Figueira
(local de abastecimento de água, onde podemos ver por cima os ramos da figueira)

Como atrás referi, estava previsto um almoço, onde muitas "estórias" foram contadas, duas delas, narradas pelo nosso amigo e colega Gregório dos Santos Álvares (Gregorinho), memórias, que vou narrar a seguir, porque ele me elegeu como uma das personagens principais: 

Primeira "estória 
O Gregorinho “denegriu” a minha imagem, como estudante, na Escola Primária da Fonte Figueira
Dizia o Gregorinho, que eu só brincava e que era um estudante "baldas", ali na presença de todos aqueles amigos "denegriu" a minha imagem, que eu tanto fazia por manter limpa. Nas palavras dele: "os teus cadernos, eram torcidas enroladas e todos sebentos, quase não se percebia o que estava lá escrito"; mais à frente remata com esta frase: "a professora pediu-te mais de dez vezes o Bilhete de Identidade e só o trouxeste quando ela te ameaçou que não te levava a exame".

De facto nunca fui um aluno "arrumadinho e penteadinho", talvez ele tenha alguma razão, mas aqui há uma contradição com a opinião da professora: ou eu não era tanto assim como ele descreve, ou tinha muita arte para enganá-la. O discurso na voz da professora, numa visita que efetuei, no verão de 2016: "tu eras o meu aluno preferido"; e continuou: "no exame de admissão que fizeste à escola de Silves, o diretor fez-te muitas perguntas e tu ias respondendo a todas, até que ele te perguntou: 'o que é que queres que eu te pergunto mais?' e, tu respondeste: 'na sei!', finalmente havia uma pergunta que não sabias".

Como se pode ser o aluno "preferido" da professora, nas circunstâncias descritas pelo Gregorinho? Exagerou com certeza na descrição, tal como a professora terá exagerado na apreciação que fez, talvez para me agradar. 

Segunda "estória"
Invasão de Marcianos na Charneca de Torre Cercas 
Desta memória, sinceramente, não me recordava: tínhamos brincado com outros colegas, até de noite, - aqui acho que ele não exagera nada, porque isso acontecia frequentemente -, talvez tivéssemos andado na labuta para construir algumas "barragens", ou então tido outra brincadeira qualquer que nos entusiasmou. Regressávamos a casa já era noite cerrada, estava um escuro que não nos deixava ver nada, nisto, quando seguíamos pelo "carreiro" que nos conduzia até à casa dele, vislumbrámos no valado em frente à casa dos irmãos Sequeira e da Isilda, umas luzinhas às centenas, talvez aos milhares. O Gregorinho tinha ouvido umas "estórias" de "Marcianos", então, com a sua fértil imaginação, pensou que estaríamos perante uma invasão da terra, por aqueles seres. Todo ele tremia de medo, imagino o que teria acontecido se não tivesse a minha companhia. Eu não me terei preocupado muito, porque esqueci de todo este episódio. Nestas situações rumava sempre até à casa do meu tio Manuel Anselmo, pai do meu primo Vítor Simões, que ficava na encosta em frente, como normalmente sempre acontecia. Certamente, ter-me-á feito companhia até à minha casa, aproveitando também, para desfrutar de mais um serão à lareira.

O Gregorinho diz que o pai se zangou por ter chegado tarde a casa e não ter ficado "convencido" com a desculpa. Mas eu acho que ele apanhou, foi uma grande "sova" (estou-me a vingar, Gregorinho, por teres denegrido a minha imagem na outra memória!).
Terminada toda esta aventura, vamos lá saber o que eram todos aqueles "Marcianos”! Eram nem mais nem menos luzicus, também conhecidos por pirilampos, que inundavam os valados da charneca de Torre e Cercas, em algumas épocas do ano.

Foto de Rosa Nunes: o Gregorinho ao fundo, contando as suas "estórias"

F. Santos - Memórias de infância
09 de agosto de 2018 

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