(Aventuras inconscientes da adolescência)
A Ponte do Caniné, não era uma
ponte tradicional, para passar de um lado para o outro de um rio, ou para
atravessar um vale. Esta ponte servia para transportar a água do canal, que
chegava ali, vinda da barragem de Silves. Em resumo era um aqueduto à
superfície, construído com a finalidade de conduzir a água do lado do Enxerim
para o Monte Branco e ultrapassar o vale onde passava uma estrada, que vinha do
“Encalhe” e se dirigia para a serra. A sua construção era feita de pilares de
cimento armado e ao cimo com duas caleiras de telhas, com travessões de
cimento, em paralelepípedos, ao longo de toda a ponte.
Os habitantes, especialmente, os do Monte Branco, usavam esta ponte para atravessar de um lado para o outro, colocando os pés sobre os travessões.
Os habitantes, especialmente, os do Monte Branco, usavam esta ponte para atravessar de um lado para o outro, colocando os pés sobre os travessões.
Na minha juventude, havia no
Monte Branco seis ou sete rapazes da mesma geração e outros um pouco mais novos.
Os da minha geração eram: Fernando Santos, Manuel Albano, Abel Santos, António
Caixinha e Carlos Albano. Acontece que passávamos regularmente sobre esta ponte
para descer para o Enxerim e ir até à foz do rio do mesmo nome, no rio Arade,
onde havia alguns pegos, “as nossas praias”,que faziam as delícias destes
banhistas. Tomávamos ali os nossos maravilhosos banhos.
Certo dia, no regresso dos banhos
no rio Arade, começámos a fazer corridas sobre a ponte: um em cada caleira,
usando os travessões, que perigo! Fizemos muitas corridas: o Manuel Albano era
o campeão e o mais “maluco”; apenas eu lhe dava alguma luta, mas ele ganhava
sempre. Um dia pensei: “hoje vou ganhar-te” e delineei uma estratégia; no final
havia sempre a tendência para diminuir a velocidade, porque a seguir havia o
leito normal do canal e saímos sempre pelas margens, um por cada lado; eu,
secretamente, em vez de diminuir a velocidade, ainda aumentei, passei o último
travessão em primeiro lugar e mergulhei no canal, onde tomei mais um banho com
toda a roupa vestida. Foi a única vez que o venci.
Noutra ocasião, coloquei mal o pé
sobre o penúltimo travessão e fui embater com o peito no último, fiquei com um
vergão do lado direito, possivelmente, terei fraturado algumas costelas, mas
não fiquei a saber, porque mantive esta situação em segredo, aguentando as
dores durante alguns dias, até que as escoriações e o sofrimento passou.
Hoje, que sou avô, até me arrepia
de pensar que os meus netos entrariam numa brincadeira destas tão perigosa.
F. Santos – Memórias da Juventude
19 de fevereiro de 2020
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