Mutamba 1970 |
O Largo da Mutamba, Praça de onde saíam e chegavam todos os transportes de passageiros que serviam a cidade de Luanda, situava-se no centro da cidade.
Nesse Largo, todos os dias,
um polícia sinaleiro, em cima dum palanco, dirigia o trânsito que circulava
naquele local, e, protegia-se do sol que se fazia sentir nas tórridas tardes
africanas, com um sombreiro enorme.
Sinaleiro na Mutamba sem sombreiro, o sol estava a nascente |
A troca de funções operada no Dange não tinha dado os resultados esperados e fracassou. Tínhamos regressado às antigas funções de vagomestre, e foi nessas funções que nos deslocámos à Manutenção Militar, para requisitar mantimentos, para alimentar os efetivos da CCaç. 2505, que iriam atuar durante cerca dum mês, em Nambuangongo, como companhia de intervenção.
Possuíamos livres trânsitos
para frequentar os salões das fábricas de cerveja da Cuca e Nocal, benesse
derivada das funções que então desempenhávamos, e, no usufruto dessas
facilidades, não nos contentamos em visitar apenas uma, mas sim as duas, já que
o consumo era oferta da casa e não tinha limite. Depois de bem aviados, com
grandes doses de líquido ingeridas, saímos e ocupamos os nossos lugares na
Berliet, transporte que utilizávamos para nos deslocarmos e transportar os
mantimentos.
Berliet Tramagal: viatura de transporte militar na guerra colonial |
Não sei porquê, em má hora, decidimos fazer um raide pela baixa de Luanda. Ao passarmos pela Mutamba, porque o sombreiro do sinaleiro estava virado a poente para tapar o sol, inclinado para dentro da estrada onde seguíamos, mas também porque o retrovisor da Berliet estava um pouco saído, ou ainda porque o condutor não conseguiu medir bem distância a que se encontrava do sombreiro, certamente por não se ter poupado no consumo do precioso liquido, com a visão um pouco toldada, não conseguiu evitar a colisão violenta do retrovisor contra o sombreiro, em consequência de tudo isto, o sinaleiro rodopiou em cima do palanco, estatelando-se no chão.
Atrás, da esquerda para a direita, Gabriel
Feijó e F Santos, em baixo, Lourenço
|
Foi assim que ficou resolvido este incidente, que poderia ter comprometido o regresso do vagomestre às suas funções.
F. Santos - Memórias de Angola
sábado, 20 de julho de 2013
Comentários na publicação original na C. Caç. 2505
COMPANHIA DE CAÇADORES 2505,20 de julho de 2013 às 20:52 (João Merca)
Pois meu Caro!
Convivemos bastante, principalmente no Lunguébungo,
mas não me lembro que me tenhas contado este episódio. Gostava de na altura
estar presente. Pessoal com a "copaneira", cheios de Cucas e Nocais,
com a voz muito lenta e arrastada, a tentar acalmar o muito desconfiado
sinaleiro.
A cena do palanco a rodopiar, depois do encosto da
berliet, o sinaleiro a ser cuspido, até me fez lembrar, uma antiga animação, só
que desta vez o " Tomy and Jerry" não puderam fugir.
Abraço
Fernando Santos,21 de julho de 2013 às 14:36
Este é um testemunho de 1970, onde se vê que a Guerra
Colonial não tinha só coisas más, se fossemos civis tínhamos ido parar ao
Governo Civil..., assim conseguimos sair sem grandes complicações, dado a nossa
condição de superior em relação ao sinaleiro.
O comando militar nunca ficou ao corrente destas e de
outras situações.
Vou referir-me aqui ao comentário anterior: cito o
companheiro e amigo Merca "Convivemos bastante, principalmente no Lunguébungo,
mas não me lembro que me tenhas contado este episódio...", nessa altura
estávamos de partida para Nambuangongo e tivemos durante a nossa permanência
naquele local acontecimentos trágicos, depois foste de férias quando estivemos,
durante pouco tempo, no Zenza... de seguida rumamos ao Leste. Aí como sabes
houve outros problemas maiores, provavelmente os temas das conversas tenham
sido outros.
Este também foi um assunto que ficou encerrado no
próprio dia quando regressamos ao Grafanil.
Um abraço com muita amizade!
Um abraço com muita amizade!
FS.