segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

O petisco que saiu caro!

1º Reis e Furriel Santos


Terminada a comissão e feita a passagem de testemunho ao Vagomestre da companhia que nos veio render, como tínhamos alguns assuntos oficiais a resolver em Luanda, regressamos mais cedo na companhia do 1º Reis.

Despedimo-nos do Lungué-Bungo, passamos pelo Luso, onde com alguma dificuldade, conseguimos, nós e o 1º Reis, viagem num Noratlas, rumo a Luanda.

A viagem foi turbulenta, com vários poços de ar no percurso, que provocavam quedas livres do avião, as cadeiras de lona também não eram muito confortáveis, mas lá conseguimos chegar, aterrando a salvo, no aeroporto de Luanda.

Noratlas -Força Aérea Portuguesa

Chegados a Luanda, instalámo-nos numa residencial próxima da baixa, e por lá fomos ficando alguns dias, até que numa manhã, dum dia que tínhamos decidido não trabalhar, passámos pela baixa, parámos num quiosque que ficava no largo em frente aos Correios, bebíamos umas cervejas e comíamos uns camarões pequenos, que sempre eram servidos como acompanhamento.

Correios Centrais de Luanda

Foi neste momento que o 1º Reis teve uma ideia espetacular, um conterrâneo que estava radicado em Luanda, da sua geração, era proprietário dum café muito próximo da residencial onde estávamos hospedados, voltou-se para nós e disse: “Ó Santos, tenho aqui um conterrâneo que tem um café, chama-se também Fernando..., vamos sacar-lhe umas cervejas e um presuntinho lá da terra". Concordámos de imediato e pusemo-nos a caminho.

Chegados ao café, feitas as apresentações, sentámo-nos, pedimos duas cervejas, entra de novo em cena o 1º Reis: “Ó Fernando, bebe aqui uma cervejinha connosco!”, o dono do café acedeu prontamente, sentando-se na nossa mesa, bebíamos e conversávamos, relembravam coisas da terra, quando o 1º Reis voltou à carga: “não tens aí uns pratinhos de presunto, uns queijinhos… qualquer coisa para acompanhar?”, o Fernando do café, de imediato, deu ordens ao empregado para preparar os petiscos.

Passámos várias horas, bebendo, comendo, conversando…, repetindo a dose várias vezes, até que já bem fornecidos, levantámo-nos, e quando nos preparávamos para abandonar o café e regressar à residencial, na saída, diz o Fernando do café para o 1º Reis: “Ó Fernando, ainda não pagaste a conta!”, era uma conta bem gorda…, desculpámo-nos do esquecimento e não tivemos outro remédio senão pagar.

Em consequência as nossas finanças ficaram em baixo, e tivemos de tomar uma medida imediata, mudarmo-nos da residencial para a Messe de Sargentos, que ficava mais longe da Baixa, mas sem custos.

Edifício da Messe de Sargentos de Luanda

Seguiram-se outras medidas, mas estas serão tema de outro testemunho…

F. Santos - Memórias de Angola 
sexta-feira, 12 de julho de 2013 

7 comentários:

  1. Sempre foi difícil colonizar um colono.

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    1. Nós não queríamos colonizar ninguém, apenas queríamos um petisco à borla...

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    2. Depois sou eu o ex cabo goloso... Mas estes sarjentos queriam comer e beber e pirarem-se.

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    3. Comigo passou-se precisamente o contrário, com também um conterrâneo, que não era assim tão conterrâneo, pois que nem sequer eramos do mesmo concelho, mas sim de um concelho vizinho. (Eu de Castro Daire, e o tal conterrâneo de Vila Nova de Paiva). Chegados a Moçambique, (Lourenço Marques) hoje Maputo, em Julho de 1971, Desembarquemos do Niassa, eu e um outro camarada meu, mas de outro batalhão, mas que embora de uma outra aldeia, andemos juntos na primária e era-mos da mesma carteira. Logo um Senhor nos abordou, com um bruto mercedes branco, perguntou: estão a chegar da Metrópole, não é verdade?_ Sim, respondemos. Então entrem aqui na minha viatura que eu vou levar-vos a conhecer a cidade. _Olhemos um para o outro, mas como eramos dois, não hesitemos, entramos, o Sr. muito amável e respeitador, foi-nos contando a vida dele. Disse-nos que era empresário e que tinha uma filha a estudar em Lisboa. E precisava arranjar dinheiro em escudos da Metrópole, para lhe mandar. Porque oficial era muito caro o cambio de escudos de Moçambique para os de Lisboa. E ofereceu-nos 20% a mais na troca. Troquemos o que levava-mos, e fomos passeando e no regresso perguntou-nos se não ia-mos ficar fora do barco, dissemos que sim e ele então levou-nos a uma pensão que era barata. Assim o fez, atendeu-nos uma simpática Senhora, combinemos o preço para comermos e dormirmos duas noites. Fomos falando, dissemos de onde eramos cá na Metrópole, e a S.ra respondeu que era de um concelho vizinho, que tinha pena que o marido não estava para nos conhecer, pois que tinha ido a umas fazendas longe da cidade. A dita S.ra despede-se da gente, quando chegou a nossa hora, e peguemos nas bolsas que levávamos e pusemo-nos a caminho. Ainda não tinha-mos andado 50 metros, a S.ra chama-nos de novo, viram-nos um para o outro, até porque ia-mos precisamente a conversar, até porque tínhamos achado barato o serviço. Cheguemos ao pé da S.ra e esta apresenta-nos o marido que no entanto tinha chegado, conversamos apresentamo-nos, falemos até numa pessoa que conhecia-mos em comum em Castro Daire. E o dito Sr. devolveu-nos o dinheiro que tinha-mos pago a sua esposa, e desejou-nos boa sorte. Em contra partida só nos pediu, que se passássemos lá férias em Moçambique que o procurássemos de novo que nos fazia novamente um desconto. Não foi possível nem para mim, nem para o meu camarada, porque não tivemos nem nos pagaram férias nenhumas, a mim disseram-me que era insubstituível, era padeiro, não tinha quem me substituir, o meu camarada, era operador de mensagens, aconteceu-lhe o mesmo

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  2. Como se costuma dizer, saiu lhes o cão ao caminho.

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  3. Há queres comer bem e não pagares. Querias mas larga lá as notas.

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  4. Bom dia!
    Tinha uma colega de Liceu que morava neste edificio, o pai era militar. Todos os dias passavamos aqui em frente para irmos para as aulas

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