sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

O Furriel que andou “desenfiado”

Um camarada Furriel tinha passado férias, no “puto” (Portugal Continental), depois de um ano complicado na guerra de Angola, dividido entre a intervenção na rede de Luanda e o Dange. As férias tinham sido ótimas, onde confraternizou com familiares, amigos e a namorada que tinha deixado na terra, situada nesta bonita zona do nosso país (ver mapa da região), mas passaram rápidas.
De regresso a Angola, a sua companhia encontrava-se no mato, o Furriel não lhe apetecia regressar aquelas paragens, já que o fim daquela missão estava preste a terminar e o seu regresso a Luanda estava para breve. Então começou por a fazer conjeturas: “se me apresento no Batalhão, mandam-me para junto da minha companhia, ou em alternativa, fico no batalhão, e tenho de pagar essa estadia com inúmeros serviços”. 

Pensou então: “e se não me apresentar? Tenho uns amigos em Luanda, com um apartamento que posso dividir com eles e assim livro-me de ir para o mato e dos serviços no batalhão”, se bem pensou melhor o fez! Mas existia uma dificuldade não tinha dinheiro para a alimentação: rapidamente resolveu o problema, conhecia o Furriel gerente da messe de oficiais e sargentos do batalhão, seria fácil convencê-lo a facilitar essa pretensão e tomar as refeições na messe, falou com o camarada, e ficou tudo acertado.

Machibombo
Dormia até meio da manhã, levantava-se, apanhava o machimbombo militar na Mutamba e dirigia-se à sede do batalhão no Grafanil, onde conforme o combinado, saboreava as magníficas refeições que eram ali eram servidas, ao fim da tarde voltava a utilizar o mesmo transporte de regresso a Luanda para as noitadas com os amigos, assim passaram 20 dias, antes do regresso da companhia.

Decorrido esse tempo, apresentou-se para retomar a sua atividade normal.
-        Mas, acontece que o camarada Furriel, gerente da messe, o procura e diz-lhe: “Oh camarada ainda não pagaste as refeições que tomaste na messe”.
-        O camarada Furriel perguntou:
-        “Então, mas tenho de pagar?”.
-        O camarada Furriel, gerente da messe, respondeu:
-        “Claro, camarada, andaste “desenfiado” e ainda querias comer à borla?”
E assim o camarada furriel não teve outro remédio senão pagar a dívida (ver recibo).


F. Santos - Memórias de Angola 
sexta-feira, 8 de junho de 2012

Nota: Os locais, personagens e factos desta “estória” de ficção, não são mera coincidência, férias em Portugal, casa de Luanda, almoços no Grafanil, Machimbombo, tudo isto existiu.
Fica aqui o desafio ao camarada furriel, para que faça um apelo à sua memória, e conte a verdadeira história dos almoços que teve de pagar na messe de oficiais e sargentos do Batalhão.
FS

3 comentários:

  1. Um mal menor, olha se tens apanhado uma purrada

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  2. A "porrada" era para o furriel desenfiado, não para mim!!!

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  3. Conheço pessoalmente outro furriel miliciano, que passou 3 meses de férias (pendurado nos conterrâneos) e, não apanhou nenhuma porrada. O n. MEC dele é, de .......69. Norte de Angola.
    Abraços Camaradas

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