Acampamento no Canage |
O Canage era um
rio que se situava entre o Lucusse e o Luso, na província do Moxico. Foi nas
proximidades desse rio, que instalámos o nosso acampamento, com a missão de
efetuar a proteção aos trabalhos de construção para posterior asfaltagem da
estrada que iria ligar a cidade do Luso a Gago Coutinho.
Estávamos
nesse dia na Messe de Sargentos, já era noite, jogávamos as cartas numa mesa
comprida, lembro-me que estariam lá, se a memória não atraiçoa, o Furriel FS, o
Furriel JS, o Furriel JM, o Furriel VR e, talvez mais alguns camaradas, que
decorridos todos estes anos não consigo recordar.
Na cabeceira da
mesa sentava-se um nosso camarada Furriel que não participava no jogo, bebia
cerveja, estaria já certamente com uma grande dose de cacimbo, porque a
determinada altura começou a falar duma maneira confusa, com frases que não
faziam qualquer sentido para nós, tais como “salta cavalinho, salta prás
minhas costas” e simulava com os ombros o galope do cavalo, repetindo isto
várias vezes, ou ainda “eu sou o sobrinho do Spínola que está na Guiné”
e “vocês vão estar lixados”, tudo isto perante a estupefação geral dos
outros camaradas, que pararam o jogo e ficaram ali sem saber muito bem o que se
passava.
A determinada
altura saiu da messe, pensamos que iria para a tenda pernoitar, mas não, sem
que alguém o conseguisse deter, depois de ter caído sobre as cinzas e o carvão,
nas imediações da cozinha, ficando num estado lamentável, infiltrou-se na mata
e desapareceu. Já de madrugada foi encontrado pelas patrulhas que então
organizámos para o procurar, andava a colocar pedras ao longo da estrada e
dizia “são ordens do meu tio Spínola” e prosseguia “que me mandou
colocar estas minas para acabar com isto”. Depois de muita insistência e do
cansaço, subiu para una viatura que o levou até ao rio, mergulhou na água
vestido, e deve ter libertado algum cacimbo, porque quando chegou à margem
exclamou “o que é que me aconteceu!”.
Foi assim que
nasceu um “sobrinho” do General Spínola e, a partir desse dia, passou a
ser conhecido por essa alcunha.
F Santos -
Memórias de Angola
sexta-feira, 21
de junho de 2013
Há muitas histórias bem verdadeiras. Algumas fazem-nos rir. Na minha companhia também houve coisas que deram para rir. Em 69 fomos construir um pontão no rio Luíca ou Vuma, fica na mata do Mufuque, na picada Zemba/Cambamba. , não me lembro bem do nome do rio. Para segurança moantamos tendas para nos abrigarmos de noite. Em dado momento aparece um a fazer fogo para todo o lado! Foi evacuado para o quartel, depois para psiquiatria de Luanda e, por último,para a M
ResponderEliminaretrópole. Ao fim de muitos anos encntrei-o e...diz-me ele - "na terra dos cegos quem tem 1 olho é rei! "Safei-me"!!